Olá amigos!
Embora o foco principal no momento seja a convergência de esforços para tornar possível a Fundação (que inclusive nos representará com muito mais visibilidade em assuntos como o da pavimentação da estrada), vou tecer alguns comentários sobre o assunto já que muito ando (andei) lendo e dialogando sobre o assunto. É válido se posicionar pois o estudo de impacto ambiental da estrada está aí, agora é uma hora muito importante para tentar proteger a Mantiqueira do crescente processo de "estupro ambiental". Ás vezes acontece de me desanimar em participar deste tipo de diálogo, já que muitas vezes acaba se transformando em achismos (é preciso parar para refletir antes de escrever..), ou mesmo quando pertinentes, ficam circunscritos às esferas de fóruns e trocas de emails, pois acabamos nos esquecendo (inclusive eu) que mais do que "opinar", devemos levar o exposto aos ouvidos dos representantes locais e autoridades e assim transformar o discurso em possibilidade concreta de preservação.
Como disse o Maurício, "Não há como ser contra a melhoria do acesso. Deve-se questionar o "como" este processo da estrada-parque está se desenrolando.". Há um ano e meio, escrevi uma carta ao Conselho Gestor de Mauá e ongs locais, preocupada com os impactos do asfaltamento irrefletido e das pretensões de massificação turística de alguns ("alguns" que acabaram virando "muitos" com a vinda de "empreendedores" interessados em "explorar o potencial turístico" da região: explorar até a região se degradar, e daí mudar a pousada/comércio para algum paraíso perdido ainda não explorado). Fiquei agradecida por alguém ter enviado para o jornal local (Folha da Serra), que publicou meu texto e acabou me trazendo convites para conhecer mais ativistas ambientais da região.
Em um outro fórum (em uma comunidade orkut) a respeito do asfaltamento (dúvida sobre o EIA: será usado outro tipo de pavimentação?), um integrante, que é engenheiro, fez uma estimativa de comparação dos enormes custos de asfaltamento e manutenção (estrada de asfalto também dá buraco, que detona ainda mais os carros que os buracos arredondados da estrada de terra), com os custos de manutenção de estradas de terra (ou com alguma benfeitoria para melhorar sua transitabilidade). Estes últimos são menores, claro. Mas manutenção de estrada de terra não dá visibilidade ao governo, e não é interessante para atrair turistas que querem mais badalação e menos barro.
Outra questão levantada por um membro deste fórum citado, foi que o tempo gasto para que os moradores de Mauá cheguem a Resende não depende só se é estrada de terra (esburacada ou não) ou asfalto (esburacado ou não): depende também do fluxo de veículos na estrada! E com a pavimentação, o fluxo de veículos se multiplicará exorbitantemente, conforme acontece em outras localidades. Ainda quanto à velocidade: uma estrada em pleno habitat de mata atlântica deve permitir velocidades altas? Não seria melhor derrubar a floresta, expulsar sua fauna e construir uma highway? É preciso "ficar em cima" para que seja uma estrada-parque o mais "parque" e o menos "highway" possível.
Não é preciso parar para pensar muito pra concluir como o asfaltamento irrefletido aumenta o turismo predatório (embora mesmo sem asfalto, aquele já tenha se instalado um tanto na região; imagine com); basta olhar os exemplos de outras localidades ambientalmente sensíveis que passaram pelo mesmo processo, sobre as quais os antigos visitantes hoje dizem "Já era! Acabou!".
O problema é que se há descaso dos governos em fazer manutenção das estradas da mantiqueira, como podemos confiar que os governos irão investir em preservação após o asfaltamento? Quando se coloca os carros na frente dos bois o resultado é crescimento caótico; como o Maurício disse, primeiro tinha que vir organização interna (para além de ETE e coleta de lixo) - e acrescento: com limitação de hotelaria predatória (existem centenas de pousadas na região de visconde de mauá!) -, e só depois a estrada-parque.
Então o tópico que lanço é este: o que estamos fazendo para limitar a hotelaria e comércio turístico predatórios? Não existe nenhuma deliberação dos governos quanto a limitar o número? Ficaria apenas sujeito às selvagens leis do mercado? Este assunto já foi levantado?
Abaixo, segue a referida carta enviada há um ano e meio:
Amigos, Através do site da ONG Crescente Fértil, tive acesso
à leitura do Programa de Gestão Sócio-ambiental na APA da
Mantiqueira, o qual considerei um importante trabalho de base
comunitária a coibir o crescimento caótico da região de Visconde de
Mauá e trazer benefícios constitucionais à população. A maioria das
diretrizes revelaram-se sábias, entretando algumas me causaram uma
certa preocupação, visto que parecem deixar brecha a um crescimento
turístico insustentável da região, tais quais: No documento governamental "Plano Diretor de
Itatiaia - Volume Maringá/Maromba" consta: Escrevo para informar-me a respeito de quais medidas
estarão associadas para conter um crescimento insustentável que
poderia vir a trazer os seguintes custos [GANNON, A. (1994): "Rural
Tourism as a Factor in Rural Community Economic Developmment for
Economies in Transition", em Journal of Sustainable
Tourism]: Eu também citaria: Aumento da criminalidade pode-se constatar na
vizinha (e asfaltada) localidade de Penedo, onde arrombamentos de
veículos em áreas de cachoeiras se tornaram extremamentes
frequentes. O turismo em Penedo ao se massificar propiciou
especulação econômica, incrementando diversas formas de exclusão e
descontentamento social. Partindo do pressuposto que dificilmente um turismo
irrefreado permite preservação da tranquilidade, pergunto se o
objetivo para Mauá é mudar o enfoque turístico? Turismo de
apreciação da Natureza à turismo de consumo da Natureza? Através de
enquetes realizadas em diversos fóruns constituídos na Internet pude
constatar que a grande maioria dos visitantes da região de Mauá é
contra o turismo em massa consumista. Uma declaração bastante recorrente é "Quem ama Mauá
não mede esforços e abdicação de frescuras para chegar e vivenciar o
local". O perfil do visitante integrado com a natureza (conceito
este constante na definição de Turismo Sustentável feita pela
Organização Mundial do Turismo) não é daquele que precisará de
sofisticação e/ou artifícios de marketing (Mauá como destino da
moda) para visitar a região. Por isso não faz sentido buscar este tipo de turista
- ambientalmente desintegrado - para a região, uma vez que esta
atitude vai contra o próprio pré-requisito para o turismo
sustentável estipulado pela Organização Mundial do Turismo para
áreas ambientalmente sensíveis. O que vai ser feito no sentido de fechar esta brecha
para a instalação do desenvolvimento predatório - representado pelos
custos acima mencionados, entre outros - em Mauá? Tal defesa faz-se
plena de direito, uma vez que não se trata de território qualquer,
mas de Área de Proteção Ambiental, isto é: Preservar é o interesse
legitimado como soberano para a APA da Mantiqueira. Abraços, Embasamento: Em 1995 a OMT (Organização Mundial do Turismo)
definiu turismo sustentável como: O desenvolvimento turístico tem de ser planejado e
gerenciado de modo a não gerar sérios problemas ambientais ou
socioculturais para a área turística. As abordagens de planejamento
ambiental e a análise de carga turística são técnicas importantes
para evitar problemas ambientais e socioculturais resultantes do
turismo. O trabalho sugere que se projete sistemas de
controle do fluxo de visitantes, dentre várias outras
medidas. Existe um padrão de mudanças imposto pelo
empreendimento turístico que, mesmo com o rótulo de atividade
sustentável, representado por modalidades como turismo étnico,
turismo cultural, turismo ecológico, entre outras, tem servido para
escamotear o sistema de exploração econômica e desestruturação
cultural, por meio da imposição de novos padrões de modernidade que
dificilmente podem ser assimilados pela população local. |
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