A ampliação dos acessos viários dentro da APA sem a efetiva implantação de planos-diretores      [2007]

ALGUNS PROGNÓSTICOS com relação ao aumento do fluxo de veículos e visitantes para a região de visconde de Mauá e adjacências, em consequência do acesso indiscriminado originado pela pavimentação das estradas.

Podemos analisar aqui - sem muito nos aprofundar – os impactos negativos de alguns cenários possíveis ou prováveis:

Ainda que se estabeleça e reforce medidas reguladoras do trânsito de veículos (carros de passeio, ônibus de excursões, vans, caminhões), as facilidades de acesso resultantes e a constante demanda turística não seletiva sempre estimulada, tendem a multiplicar por duas ou três a quantidade de veículos circulantes nas limitadas vias de tráfego regionais.

Se calcularmos que, atualmente, no auge dos feriados, chegam à região cerca de 500 a 700 veículos (que se somam aos 300 ou 400 já existentes no local) e observa-se um tráfego constante e ininterrupto entre os pontos de visitação disponíveis, que geram ridículos engarrafamentos em Maringá, Maromba, Sta. Clara etc., além de congestionar os locais de visitação turística (**) assim alterando totalmente os aspectos ambientais e os recantos bucólicos rurais buscados e tão propagandeados.

( ** ) N.B.- Esses locais de visitação turística regionais não são numerosos como se pensa: apenas 4 ou 5 cachoeiras principais, um ou dois locais panorâmicos e alguns pontos já demasiadamente freqüentados e facilmente saturáveis. A essência do potencial turístico da região reside em seu patrimônio natural e no seu conjunto paisagístico na ausência de trânsito ostensivo, na sua tranqüilidade, em suas características ainda rurais, suas trilhas e caminhos bucólicos ( ?? ) etc.

IMAGINEMOS as conseqüências da duplicação ou triplicação desse movimento e seu impacto sobre o visitante – sem falar no visitante estrangeiro – àquele ligado nos aspectos ecológicos ou apenas àquele mais exigente e seletivo (com condições para pagar e manter os elevados valores da hotelaria e da restauração mais sofisticada que vem sendo implantada) e os reflexos desse processo sobre a qualidade de vida das comunidades regionais a médio prazo...

Um pequeno exercício de imaginação (e uma inescapável estimativa matemática) nos indicam o seguinte:

Abstraindo-se a quantidade de pessoas e nos atendo apenas em relação aos veículos em trânsito, teremos num determinado feriado no futuro, por exemplo, a presença de 3.000 carros (? ) talvez 5.000 ... Quem sabe até 10.000 ( ? ) (como ambicionam alguns inconseqüentes que pensam apenas em mercadejar as belezas de nossa região!). ..

.....Se multiplicarmos esses números pelo comprimento médio de um automóvel ( 4 metros aproximadamente), teremos o resultado de 12.000 ou 20.000 metros (12 A 20 km) "lineares" de veículos nas nossas limitadas, bucólicas (!?), ecológicas (!?) estradas. Mesmo considerando que muitos veículos possam estar estacionados dentro de pousadas e hotéis, a quantidade rodando ou estacionados nas ruas ainda significará um mar de lataria a desfigurar a paisagem e a intranqüilizar caminhantes e transeuntes.

Se considerarmos que inerente a este aumento brutal do fluxo de veículos existe também um aumento proporcional no número de visitantes invadindo a serra por meio de excursões (sobretudo diurnas... chegando de manhã e saindo à tarde), vans, farofeiros em geral, que isso significará – além do aumento da insegurança e violência – a irremediável ocupação desordenada do solo, o aumento irrefreável dos loteamentos ilegais que já dominam a paisagem... enfim, a banalização da imagem regional – inviabilizando os aspectos mais adequados do turismo rural e ecológico seletivo (que se impunha) – transformando a região em um grande “Lote 10” – não há mesmo muito o que comemorar.

O que será de Visconde de Mauá, dos ideais ambientais dos que para cá vieram e da nossa qualidade de vida? Que fim terá a Área de Proteção Ambiental ( APA ) da Mantiqueira... considerando que estão asfaltando os acessos à Bocaina (via Liberdade e via Serra do EME), abreviando o tempo de acesso de Barra Mansa ou Volta Redonda ou cidades circunvizinhas para meros 60 ou 90 minutos... ou seja; da Baixada até aqui será possível aceder à região, por qualquer lado, em menos de duas horas.

É preciso entender também que esse aumento dos fluxos de visitação será constituído em sua maior parte por excursões “diaristas”, turismo “pic-nic” etc. provenientes não do Rio ou de São Paulo, mas das localidades próximas periféricas (Volta Redonda, Barra Mansa, Resende, Lorena etc.) que nos próximos anos representarão uma concentração populacional somando mais de um milhão de pessoas com uma frota de mais de 200.000 veículos.

Além disso, a multiplicação de loteamentos ilegais em matas ciliares e APPs, que se constituirão no principal vetor de degradação da região, acompanhada pela proliferação incontrolada (210?!) de pousadas, hotéis, chalés, além dos botecos, “tendinhas” e oficinas de beira de estrada que aumentam a cada mês, denota não só a completa ausência de um planejamento administrativo inteligente e de fiscalização efetiva, com a predominância de uma mentalidade estritamente comercialista, imediatista, completamente dissociada dos interesses ambientais, sustentáveis, estratégicos e prioritários.

Nos próximos anos, a escassez de água potável nas estiagens vai continuar a se agravar, e não será possível fornecer esse recurso para as novas casas nas dezenas loteamentos e parcelamentos irregulares, onde, anteriormente, naqueles espaços existiam apenas fazendas tradicionais, com uma ou duas moradias simples. As construções já vão escalando as encostas por toda a parte.

Não há a menor dúvida de que, a exemplo do que ocorreu e vem ocorrendo, em todas as localidades turísticas que não souberam preservar-se e se resguardar, seletiva e criteriosamente das “invasões bárbaras”, das breguices periféricas e também do despreparo cultural de um certo tipo de classe média, arrivista, deseducada, que teve acesso ao “carrinho”, a nossa região já está sofrendo um processo acelerado de degradação, perderá definitivamente sua chance histórica de estabelecer uma imagem de genuíno turismo ecológico de nível internacional, de qualidade cênica e paisagística.

Sua hotelaria – já extrapolada em número – verá, em pouco tempo, seu público cativo mais requintado, assíduo e pagante, refluir para outras regiões menos vulgarizadas.

Bem sabemos que, uma vez desencadeado esse processo de expansão sem critérios, não há mais como detê-lo ou revertê-lo, e assim, diante das crises socioambientais (e suas resultantes socioeconômicas) que se avizinham, ao invés de resguardados e autônomos, enquanto comunidade, estaremos cada vez mais vulneráveis e dependentes...

Diante dessas perspectivas inexoráveis, alguém saberia responder quando parar? E onde parar?

Lembrando que o pessimista é um otimista bem informado... devemos nos conscientizar de que precisamos atuar com todo o rigor e urgência no sentido de estancar ou diminuir tais impactos negativos e irreversíveis.

A “estrada-parque”, caso seja efetivada com seriedade, obedecendo as rígidas normas e sendo declarada, textual e legalmente, por leis municipal e estadual, um “parque ambiental de percurso” (o que não aconteceu até agora), tornando-se genuína área de proteção, poderá ajudar a conter alguns aspectos negativos desse processo.

Será preciso estabelecer, entretanto, precauções e critérios rigorosos, corajosos e eficientes... Nessa condição, poderão ser adotadas – legalmente – limitações no trânsito pela estrada-parque (quantidade de veículos, horários de trânsito livre, tonelagem máxima etc.), controlando o acesso a Mauá, único modo de fazer prevalecer essas posturas.

Portais de controle e pedágios também deverão ser estabelecidos, assim como uma eficiente e permanente fiscalização. Será que as administrações terão vontade política para adotar essas precauções, depois da estrada pronta??

Mais importante ainda será implementar com urgência e critérios ambientais estritos os planos diretores da APA e dos municípios limítrofes, garantindo as áreas de preservação permanente (encostas, matas ciliares, nascentes etc.) e sobretudo coibindo os loteamentos irregulares.

Toda essa problemática, por si só é preocupante, aqui abordada apenas como um comentário de alerta aos nossos conterrâneos da Mantiqueira (aqueles ainda pensantes), nem mesmo aflora outros aspectos ainda mais sérios, e estes sim graves e urgentes, que tratam da nossa situação e do nosso preparo e posicionamento em face das mudanças climáticas e dos consequentes distúrbios geopolíticos que se avizinham e que deveremos, em breve, enfrentar.

Lino Matheus de Sá Pereira - Pesquisa CIPAC – R 2007

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