Apoio à Estrada-Parque 

(texto de Jussara Nunes publicado no jornal Ponte Velha - 163 - set./2009)

Sou moradora de Visconde de Mauá há 23 anos. Jomalista formada, quando saí do Rio, trabalhava na TV Bandeirantes. Femando, economista, no Banco do Brasil, 15 anos, e mamãe, Maria Olímpia, professora, 7 anos na Funarte. Junto com nossas 2 filhas (7 e 1 ano} Carolina e Clarisse (a 3a. nasceu aqui) largamos tudo e viemos para Visconde de Mauá em busca do parafso. Chegamos em 1985, plantamos 7.000 árvores em terras devastadas por queimadas, fizemos composto com o lixo de cozinha e a separação de resfduos sólidos, vendemos produtos da nossa horta orgânica para sobreviver, e até escrevemos um livro. Criei minhas filhas norteada pelos princípios da preservação e da sustentabilidade. Fazemos uma alimentação natural, com produtos integrais e sem carne vermelha, e só nos tratamos com homeopatia.

Éramos totalmente contra o asfalto.

Minhas três filhas estudaram na escola local e, durante aquele período, fiz parte da Associação de Pais. Conseguimos, entre outras coisas, duas conquistas muito importantes: o ônibus só escolar (o transporte era feito pelas linhas regulares da TUPI) e o 2o. grau. Estivemos, eu e Zé Tavares, com o sec. estadual de educação e conseguimos regularizar o segundo grau na região, com uma turma de apenas 11 alunos. Minha filha fez parte da primeira turma de 2o. grau de V.M., e - tenho certeza -  foi a formatura mais emocionante da história da escola. Eu, Maurene e Femando, professor de matemática e administração na escola, fomos homenageados.

Em 1985, V. M. não tinha padaria, não tinha tv, não tinha telefone, não tinha assalto. Inúmeras vezes, desci a serra levando funcionárias em trabalho de parto e crianças precisando de cuidados médicos. Chegamos a ficar dois dias ilhados, porque a baixada da Capelinha tinha dois metros de água. Mas o Rio Preto ainda era limpo. Até que chegaram padarias, telefones, antenas parabólicas, e assaltos. Era a chegada inexorável do progresso? Até asfaltaram Maringá (sem calçada e saneamento básico). Em 2005,dissemos que, para nós em V.M. a tsunami veio do céu. Depois de três tempestades e um tornado, a nossa estradinha acabou. Foram 150 barreiras cafdas, carros soterrados, casas alagadas e um acidente que vitimou 8 idosos, O que era bucólico, ficou trágico, A região inteira já dependia, direta ou indiretamente, do turismo. Foi um caos. Durante o carnaval daquele ano, a estrada ficou interditada, e quem insistiu em chegar, turistas e/ou moradores, correu risco de vida.

As vilas foram abandonadas, as invasões aceleraram, as construções irregulares aumentaram muito, principalmente na beira do nosso querido rio, E o pior, o Rio Preto deixou de ser balneável.

Não sou política, nunca me filiei a um partido, nem me candidatei a nenhum cargo. Mas a soluçãó estava na mão do poder público, Fomos ao estado numa grande manifestação popular. Dois ônibus cedidos pela Cidade do Aço, lotados pela comunidade e empresários,, foram para o Rio. Na porta do Palácio Guanabara, fizemos uma festa, com apitos, faixas e até champagne. Quem abriu as portas do palácio foi o nosso atual vice-governador Pezão. Garotinho, o governador, não resolveu nada. Mas, Pezão, quando eleito, disse: "vou fazer a estrada parque de V.M.".

Como um gênio, que realiza o maior desejo de uma comunidade, prometeu uma pavimentação, o mais ecologicamente correta possível. Com direito a mais um desejo, pedimos o nosso plano diretor, para nos proteger e atenuar as conseqüências do que poderia vir. Assim, veio de quebra o projeto de revitalização e urbanização das vilas, contido dentro do plano diretor (pronto desde de 2001). Minc, como o pai da princesa, disse." Antes tem que cumprir duas tarefas": saneamento básico e lixo. E, por fim, os dois príncipes, PG e Vicente, partiram para a execução do projeto, venceram muitos obstáculos, até poder acordar a princesa adormecida.

A estrada-parque não é o "asfalto". O "asfalto" padrão DER significava uma grande rodovia, com duas mãos distintas, e pelo menos 7 metros na lateral. Não sobraria nada da nossa serra. A nossa estradinha vai continuar, do mesmo tamanho, só que mais segura e arrumada.

O projeto da estrada parque não só é único no Brasil, não só é belíssimo e, por isso, vai ser um atrativo a mais para nossa região, como é decreto-lei. Por se tratar de uma estrada atravessando uma unidade de conservação, contempla os instrumentos necessários para a sua preservação e manutenção, para sua sustentabilidade. Será que isso vai acontecer? Acredito, sinceramente, depois de 23 anos de V.M., que só depende de nós, moradores. Nós temos o poder de fazer acontecer, da forma que queremos.

Entendi que o parafso, nesse planeta, .tem que ser arduamente, construfdo. E eu e minha famflia nos orgulhamos de poder fazer parte da construção desse pedacinho de parafso chamado VISCONDE DE MAUÁ.

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